Vivemos em uma bolha

Essa é uma verdade que nem sempre queremos admitir. Nossa bolha é feita das nossas crenças, experiências, referências e do nosso próprio olhar sobre o mundo. Dentro dela, tudo faz sentido. A vida parece ser aquilo que enxergamos e sentimos, e nos esquecemos de que há muito mais além do que conseguimos perceber.

Fazendo um paralelo, penso no que acontece dentro de uma célula. Lembro-me das aulas de biologia e do processo de fagocitose, quando a célula captura algo estranho, envolve esse elemento e o digere. A princípio, esse mecanismo serve para proteção, para manter o equilíbrio interno. Mas e se, ao fazer isso, a célula também estiver se fechando para algo que poderia transformá-la?

Sinto que muitas vezes fazemos o mesmo. Filtramos o que queremos ver, consumimos conteúdos que reforçam nossas ideias e nos cercamos de pessoas que pensam como nós. Assim, a bolha fica cada vez mais resistente, e o mundo fora dela se torna um território distante, quase irrelevante. Só que a realidade não é feita apenas da nossa perspectiva. O que eu vejo é apenas uma minúscula fração de um todo muito maior.

E se há algo que aprendi, é que viver assim nos torna alienados. Alienados da dor do outro, da história do outro, das decisões do outro. E o pior: nos faz acreditar que sabemos mais do que realmente sabemos. Mas a verdade é que tudo o que eu acho que sei é apenas um pedaço de algo muito maior, que nunca terei acesso completo.

Isso me faz refletir sobre o julgamento. Como posso julgar alguém se só vejo um fragmento da sua história? Como posso decidir o que é certo ou errado para outra pessoa se não conheço sua caminhada? Redes sociais, por exemplo, nos mostram recortes de vidas, fotos editadas, momentos selecionados – mas nunca a totalidade. Nunca a profundidade.

Por isso, escolho me lembrar de um princípio simples: ter empatia e respeito pelo outro, mesmo quando não compreendo suas escolhas. Porque sei que, assim como eu, cada pessoa tem sua bolha, suas lutas invisíveis e sua própria maneira de enxergar a vida. E se algum dia eu for julgada – e todos seremos –, espero que quem me julgue tenha o cuidado de ver não apenas uma foto, mas o vídeo inteiro da minha história.

Até lá, sigo tentando romper um pouco mais a minha bolha todos os dias.

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